O jardim das rosas amarelas
Era uma bela manhã ensolarada. O jardim da D. Luzia era o mais belo da rua. As lindas rosas amarelas eram a sensação dos que passavam naquele trecho e todo mundo parava para admirar sua beleza estonteante.
D. Luzia era uma Sra. de bastante idade, viúva e morava sozinha. Tinha dois filhos e ambos moravam em cidades diferentes e distantes, por isso ela ficava a maior parte do tempo só em sua casa de 3 cômodos.
Como era aposentada, sozinha e apenas via os filhos e netos na páscoa, natal ou dia das mães, D. Luzia não tinha muito o que fazer, por isso passava a maior parte do tempo em seu jardim, regando e cuidando de suas lindas roseiras.
Ela sabia que suas flores eram a atração da pequena cidade onde morava. Todos que passavam pelo seu portão não resistiam e paravam para observar suas flores.
Certo dia, enquanto molhava suas plantas, um morador – que vivia na rua de cima – a viu conversando sozinha. Ele achou aquilo muito estranho, pois D. Luzia era uma mulher lúcida, apesar dos seus 85 anos. Curioso, ele parou para perguntar-lhe o que estava fazendo.
D. Luzia ouviu-o chamá-la no portão. Ela desligou a mangueira e foi até ele e sorridentemente disse-lhe:
- Bom dia! O Sr. me chamou?
Ele respondeu alegremente, dizendo:
- Sim, eu a chamei. Estava eu aqui andando em direção à padaria quando a vi conversando sozinha. Fiquei curioso, pois todos sabemos ser a Sra. uma mulher vigorosa e de uma mente sadia. Por que porventura estaria a Sra. falando com o vento?
Ela riu e disse-lhe:
- Não estou conversando com o vento. Creio que o mesmo não poderia me responder. Estou conversando com minhas rosas.
- Com as rosas? Como assim? Elas são apenas flores!
D. Luzia sorriu e gentilmente lhe respondeu:
- Elas são aquilo que nós queremos que sejam.
- Como assim? – ele perguntou, demonstrando estar cada vez mais confuso com a explicação dela.
- São apenas rosas sim, eu admito, mas a mente humana precisa trabalhar de alguma forma. Se ficarmos parados, sem compartilhar nossos desejos, anseios, ideias e outras coisas com alguém, vamos acabar parando em um centro psiquiátrico ou morrer com doenças senis em algum asilo desses. – ela disse. – A única coisa que tenho aqui são minhas amadas rosas amarelas.
- Continuo não entendendo nada. Por que fala com flores? Elas não vão te responder nada. – ele respondeu.
- Eu sei disso. Nunca disse que elas iriam me responder. Apenas basta à minha mente trabalhar de alguma forma. O Sr. sabe, sou sozinha e não tenho com quem conversar. Se eu não conversar com alguém, minha mente começa a trabalhar de forma que eu não quero e isso pode dar lugar à depressão, mal de Alzheimer e outras doenças da idade. A mente precisa continuar ativa. Quando converso com as rosas, sinto minha energia revigorada, meu cérebro ativo e minha saúde mental e física fortalecidas. Não posso dar espaço para doenças. Apesar de minha idade avançada, quero viver até meus 100 anos ou mais. – disse ela.
- Estou impressionado. Como a Sra. consegue arrumar tanta força para enfrentar seus desafios? – perguntou o homem.
- Eu converso com as plantas, procuro não ver televisão ou coisas que vão me deixar mais depressiva. Não fumo, nunca ingeri álcool, leio muito, escrevo cartas para meus filhos, procuro ter boas amizades e ainda procuro pensar sempre que tudo tem um lado bom, apesar das adversidades. Aprendi ao longo dos meus anos que a doença está na nossa mente e se quisermos ter um corpo sadio, nossa mente precisa estar sadia.
- A Sra. sempre viveu assim? – ele perguntou.
- Infelizmente não. Trabalhei boa parte da vida como louca. Esqueci de minha saúde física e mental, esqueci dos amigos e parentes e ainda por cima alimentava-me muito mal. Quase morri quando tinha 58 anos, pois tive um derrame cerebral e os médicos me disseram que eu tinha que mudar tudo na vida se quisesse continuar viva. Percebi que a vida era mais do que tudo isso. Percebi que minha família, minha saúde e meus amigos vinham primeiro. Passei a cuidar de mim mesma. É certo que hoje estou só. Trabalhei a vida inteira e hoje moro em uma casa de apenas 3 cômodos. Teria mil motivos para lamentar minha solidão, minha casa simples e outras coisas mais, no entanto, tenho um milhão de motivos para acreditar que amanhã tudo será melhor, mas para que tudo seja melhor, tenho que fazer meu melhor hoje. O que eu planto hoje em meu jardim, só irá florescer se eu cuidar e regar. Se eu quero um amanhã melhor, preciso preparar tudo o que posso hoje, senão a beleza da vida nunca chegará. – ela respondeu com um belo sorriso em seus lábios.
- Sabe, - disse o homem – nunca ouvi algo tão profundo e tão cheio de verdade.
- A beleza da vida está nas mãos de todos nós. Somente somos felizes se quisermos ser felizes. Não precisamos de uma bela casa ou estarmos cercados de parentes e amigos, claro que seria muito bom se pudéssemos viver assim. Contudo, meu amigo, sabemos que nem sempre isso é possível. Precisamos olhar a vida com outros olhos, encontrando tudo o que há de bom, mesmo nas dificuldades e utilizarmos sempre dos recursos que nos são disponíveis, mesmo que não tenhamos mais do que rosas para nos ajudarem nessa incansável busca.
- Hoje aprendi uma lição. Se não temos tudo o que queremos, temos que utilizar tudo o que temos e fazer o melhor que nós pudermos. – disse o homem.
Dizendo isso, seguiu seu caminho.
Ele passou essa idéia adiante. Hoje a Sra. Luzia já é falecida, mas tudo o que ela relatou ao seu vizinho naquela manhã foi passado para seus familiares e parentes, pois tudo o que é bom precisa ser retido e vivido.
“Se não temos tudo o que queremos, temos que utilizar tudo o que temos e fazer o melhor que nós pudermos”
Passe essa ideia adiante!